210km de Santigo de Compostela

Escrito por Raphael Rossatto

O caminho completo de Santiago de Compostela tem 800 km e , em média, o peregrino leva pouco mais de um mês para percorrer toda a distância. Mas engana-se quem pensa que é preciso fazê-lo por completo para obter a “Compostela” ou viver uma grande experiência. Não é incomum encontrar, ao longo de todo percurso peregrinos que começaram suas jornadas de cidades diversas, na busca de introspecção e desafio do corpo e mente.

No meu caso, o ponto de partida escolhido foi a cidade de Ponferrada, localizada há cinco horas de ônibus do aeroporto de Madrid.  

Para saber como se preparar, confira o post ► CAMINHO SANTIAGO DE COMPOSTELA – Planejamento ◄

Ah… não se esqueça de:

1° Trecho: Ponferrada – Villafranca del Bierzo (24,2 km)

Quem me conhece sabe que eu tento planejar tudo e ter sempre um plano b, c e d. Porém, como o ditado diz: “todo plano é feito para dar errado”. O voo para a Espanha atrasou e com isso perdi o ônibus que me deixaria em Ponferrada no período da noite. O atraso total foi de sete horas! Long story short, cheguei ao Terminal de Ônibus da cidade de madrugada. O termômetro da rua marcava 4ºC!

Sai então à procura de um albergue para carimbar minha credencial e poder dar início à peregrinação. Para o meu azar, os albergues municipais só abriam às seis horas da manhã. Credencial carimbada, mala nas costas, iniciei minha jornada, #partiu.

Mas como saber para onde ir? Ao longo de todo percurso você encontrará símbolos do caminho no chão, edificações, paredes e muros. Eles são facilmente identificados por uma concha amarela.

Aqui fica uma curiosidade, depois dessa viagem passei a notar que os símbolos do Caminho podem ser encontrados em diversas outras cidades da Europa. Pude notá-lo em Paris, Dijon, Genebra e Turim! É impressionante!

Grande parte do trajeto do primeiro dia é deslumbrante: longos campos com plantações, montanhas e morros. Vilarejos que possivelmente só existem porque nós peregrinos por lá passamos.

Naquele dia caminhei por aproximadamente sete horas, e acredite, machuquei meu joelho! Logo no primeiro dia!

Chegando na cidade de Villafranca del Bierzo, por cerca de oito euros, me instalei em um albergue municipal. Se você chegar cedo, com sorte consegue ficar com a parte de cima do beliche rs.! Roupas de cama descartáveis, um delicioso banho quente e toda a infraestrutura de um hotel #meiaestrela, com direito a lavanderia e cozinha compartilhada. Mas fique tranquilo, caso você queira um pouco mais de comodidade, privacidade e requinte, há também opções de hotéis e pousadas ao longo de todo o caminho. Ainda assim, acredite, o local é bem limpo e organizado. O limite de estadia é às nove horas da manhã, período em que o albergue é fechado e devidamente higienizado, sendo reaberto apenas ao meio dia, à espera dos próximos peregrinos.

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2° Trecho: Villafranca del Bierzo – O Cebreiro (30 km)

Esteja descansado, caro leitor, esse trecho traz grande desafio! Nos últimos 12km você subirá “La Faba”, conhecido por ser um trecho difícil, dependendo da época do ano. Você poderá encontrar lama e pedras soltas, de forma que é importante levar algum item de apoio como cajado, stick ou mesmo uma bengala!

Superado o desafio de “La Faba”, você encontrará um café bem agradável! Confesso me deu vontade de ficar por lá, mas nossa jornada do dia termina no vilarejo do “O Cebreiro”. Uma cidadezinha toda feita de pedra no alto da montanha, com forte inspiração celta. A dica aqui é experimentar a Torta de Compostela, tomando um aperitivo Crema de Orujo! Não me pergunte o que era, só sei que parecia Bailes!

3° Trecho: O Cebreiro – Tricastela (21 km)

Mais um ditado nos ensina: “tudo que sobe tem que descer” e assim será seu terceiro dia. Você passará por longos trechos abertos rodeando a estrada e outros passando por pequenos vilarejos com muros de pedra, que fazem você pensar que está no século XII. Ao longo do percurso você também passa por igrejas antigas e lembre-se cada parada procure o próximo carimbo para sua credencial.

Quando passei por lá era meu aniversário, chovia bastante e nunca fiquei tão feliz por ter comprado roupas impermeáveis, um belo poncho e aquelas botas que te falei no começo dessa história. Caso não se lembre, fica a fica #salomon #goretex, você irá me agradecer.

Acredite, depois que familiarizado com a rotina do caminho, você para a vivenciar uma mistura de sentimentos. Luta com o cansaço, fala com pessoas do mundo todo, fala consigo mesmo e muitas vezes sequer profere uma palavra.

Tricastela – Sarria (passando por Samos) (25 km)

Quarto dia, por que encurtar o caminho se podemos andar mais não é mesmo? Aqui você terá duas opções, ladear estrada ou passar por Samos e seu famoso Mosteiro. Vai por mim, você já terá de andar de qualquer jeito, cinco quilômetros a mais ou a menos não farão tanta diferença.

Os últimos três quilômetros são deslumbrantes, uma vez que Sarria fica no topo de uma montanha e você constantemente tem uma visão linda do vale. Nas manhas você verá as nuvens cobrindo todo o vale, lá eles chamavam de “mar de nubes”, mar de nuvens. Incrível!

Em Sarria optamos por fica em um Hostel Particular “La casa de Carmen”, afinal merecíamos algum luxo depois de quatro dias e cem quilômetros percorridos.

Sarria – Gonzar (31 km)

O quinto dia começou com um café com leite bem quentinho e pão caseiro crocante, daqueles que você costuma ver somente em propaganda sabe? Pois é, você come com os olhos! Mas vale destacar que eu evitava comer muito no café da manhã, pois passaria horas caminhando. Eu sempre preferia cumprir meu trecho diário, tomar um banho na cidade e me deliciar com o “menu do peregrino”, opção mais barata e bem servida que você encontra ao longo de todo o caminho. Ele geralmente é formado por entrada, prato principal, pão e vinho, por cerca de dez euros e, com sorte, até sobremesa.

Neste trajeto passei por uma bela ponte e uma cidade muito bonita chamada Porto Marin. Seguindo o caminho, a parada do dia será em Gonzar, cidade que possui apenas duas opções de acomodação: o albergue municipal e um albergue privado, que na verdade é a residência de uma senhora. O local também possui um único restaurante, com horários bem restritos. Cheguei à porta às 14h50 e fui informado de que o estavam fechados até às 17h! Caro leitor, esperar 2 horas para almoçar foi torturante, mas compensadoras pois nessa noite juntamos em uma mesa três brasileiros, um israelense, dois alemães, uma croata, um italiano e dois espanhóis. As definições de zoeira foram atualizadas naquele dia.

Gonzar – Melide (34 km)

No sexto dia tem parada obrigatória combinado? Anota aí: MELIDE! Ali está o famoso restaurante Pulperia do Ezequiel! Eu pessoalmente não conhecia, mas é um restaurante super tradicional que serve polvo com páprica, pão e vinho branco. Simples e perfeito!

Nesse dia novamente a mesa estava farta e diversa, com novos amigos feitos ao longo do caminho. Os encontros e desencontros eram constantes e isso fez dessa jornada uma experiência ainda mais especial.

Nesse trajeto você passa pela cidade Palas de Rei. Vale a parada para descansar, já que o caminho até Melide é longo.

Melide – Arzua (14 km)

Sétimo dia! Você já passou da marca dos 165km! Nesse momento sua mente te derruba, você está mais próximo do seu destino final. Vai sentir dor, cansaço e até arrependimento de ter ido tão longe de casa para sofrer. Vai sentir saudade do metrô lotado, dos problemas do trabalho e da vida mundana. Mas persista, você está chegando lá!

Arzua possui um albergue municipal todo de pedra, no estilo da cidade, bem como um bar logo a frente, onde todos os peregrinos estão lá descansando e se preparando para o próximo dia.

8° Arzua – O Pedrouso (20 km)

Penúltimo dia! Continuei por trilhas tranquilas dentro de florestas, por vezes saindo em vilarejos ou ladeando estradas, nas quais dificilmente via-se veículos. O albergue municipal de O Pedrouso é grande e parece uma escola antiga, com várias “salas” adaptadas para serem os quartos.

9° O Pedrouso – Santiago de Compostela (19 km)

O último trecho reserva muitos bosques. Confesso que sem uma lanterna foi difícil me locomover. A ausência de luz natural e artificial me fez perder o sentido algumas vezes. Mas fique tranquilo, nessa hora um peregrino ajuda o outro e após algumas horas você chega no alto do morro, junto a Capela de San Marcos. Ali você já enxerga a cidade de Santiago de Compostela e se dá conta que está chegando!

A vista da praça central e imensa catedral de Santiago de Compostela trazem o sentimento de missão cumprida! Ele é genuíno!

Recomendo aqui buscar uma boa acomodação, já que existem diversas opções e, vai por mim, você merece!

Após cumprir sua jornada assista à missa e se possível com o botafumeiro, um incensário que é balançado entre as extremidades da nave da Igreja. E não esqueça de passar na central do peregrino e emitir a sua Compostela, que comprova a conclusão ao longo dessa jornada!

Comemore e saiba que dessa experiência você não voltará a mesma pessoa!

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Boa viagem e AndaLe!

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